O crime é apenas uma escolha individual ou também pode ser consequência da falta de oportunidades?

A Teoria da Subcultura do Crime, desenvolvida pelos sociólogos Richard Cloward e Lloyd Ohlin, sugere que, em sociedades desiguais, muitas pessoas acabam entrando para o crime porque não enxergam outras formas de melhorar de vida.

Essa ideia mostra que o crime não acontece apenas por maldade ou desvio de caráter, mas porque, em alguns contextos, ele se torna uma alternativa viável para conquistar dinheiro, status e respeito. Quando a sociedade não oferece caminhos legítimos para o sucesso, as pessoas criam seus próprios meios – e, muitas vezes, esse meio é o crime.

Como essa teoria se aplica ao Brasil?

No Brasil, essa realidade pode ser vista em várias regiões. Em muitas comunidades, a desigualdade de oportunidades é enorme. Enquanto algumas pessoas têm acesso a boas escolas, cursos e empregos, outras crescem em locais onde o Estado é ausente e a única estrutura organizada ao redor delas é o crime.

Em locais assim, as facções criminosas assumem um papel que deveria ser do Estado, oferecendo:

✔️ “Emprego” para quem não consegue uma vaga no mercado formal

✔️ Proteção e segurança onde a polícia não atua de forma eficaz

✔️ Ajuda financeira para famílias em situação de extrema pobreza

✔️ Sentimento de pertencimento para jovens que não encontram apoio na sociedade

Dessa forma, o crime não é apenas um ato isolado. Ele se torna parte de uma estrutura social e econômica, funcionando como um “caminho alternativo” para quem não vê outras opções.

Exemplos da Teoria da Subcultura do Crime no Brasil

1. O tráfico de drogas e as facções criminosas

Facções como o Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando da Capital (PCC) e outras organizações menores não apenas controlam o tráfico de drogas, mas também exercem influência sobre comunidades inteiras.

Muitos jovens entram para o tráfico porque veem nele uma forma rápida de ganhar dinheiro e conquistar respeito. Sem oportunidades no mercado de trabalho e muitas vezes sem apoio familiar, eles acabam sendo recrutados para atividades criminosas desde cedo.

Além disso, em algumas favelas, as facções impõem regras e garantem uma segurança que o Estado não oferece, impedindo crimes como assaltos e estupros dentro das áreas que controlam. Para muitos moradores, isso cria um dilema: mesmo sabendo dos perigos do crime, eles dependem da estrutura criminosa para viver.

2. O crime dentro das prisões

O sistema prisional brasileiro também reflete essa teoria. Muitas pessoas que entram no sistema sem ligação com facções acabam se filiando a elas para conseguir proteção e sobreviver.

Dentro dos presídios, as facções oferecem diversos benefícios e regras. Sem alternativas para se reintegrar à sociedade após a prisão, muitos acabam voltando para o crime quando saem, fortalecendo o ciclo criminoso.

Fica o questionamento, teriam voltado ao crime caso houvesse oportunidade?

3. O crescimento dos crimes digitais

Nos últimos anos, os golpes financeiros e fraudes digitais aumentaram muito no Brasil. Essa mudança mostra que o crime está se adaptando às novas realidades da sociedade.

Se antes o tráfico de drogas era a principal alternativa para jovens em situação de vulnerabilidade, hoje, muitos aprendem a aplicar golpes bancários e fraudes online. Esses crimes são menos violentos e oferecem um alto retorno financeiro, além de envolverem menos riscos de prisão em comparação com crimes tradicionais.

Essa nova tendência reforça a ideia da Teoria da Subcultura do Crime: quando uma porta se fecha, outra se abre, mesmo que seja pelo caminho ilegal.

Repressão e Prevenção Precisam Andar Juntas!

A Teoria da Subcultura do Crime não defende que o crime deve ser aceito, mas nos ajuda a entender que ele não nasce do nada. Ele cresce onde o Estado falha e onde não existem oportunidades reais para as pessoas seguirem um caminho legítimo. E acreditem, isso é muito real.

Isso significa que combater o crime apenas com repressão não é suficiente. É necessário um conjunto de estratégias que envolvam:

✔️ Repressão dentro dos limites da lei

✔️ Investimento em educação e capacitação profissional, para que jovens tenham oportunidades de trabalho dignas

✔️ Políticas públicas de inclusão social

✔️ Reforma do sistema prisional, garantindo que aqueles que cumpriram sua pena tenham chances reais de reinserção na sociedade

A repressão ao crime é necessária, mas sem estratégias preventivas, sem acesso à educação e sem oportunidades reais, o crime continuará sendo um caminho atraente para muitos.

Eu acredito que o papel da educação e oportunidades é essencial. A repressão sem oportunidade gera revolta e muita gente gostaria sim de seguir por um caminho honesto mas as oportunidades não são as mesmas para todos.